sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

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domingo, 8 de novembro de 2009

::: Ernest Rutherford :::



Ernest Rutherford
(1871 - 1937)
Os progressos da química, ao fim do século XVIII, haviam reedificado a teoria atômica sobre alicerces mais científicos do que as meras especulações de Demócrito. Mas a concepção ainda era algo ingênua, como se cada átomo fosse apenas um pedacinho invisível de matéria, com as mesmas propriedades da substância em que estivesse integrado. Quase cem anos se passaram, antes que as propriedades do átomo começassem a ser desvendadas.

Em fins do século XIX, já se havia detectado a presença do elétron, partícula atômica dotada da menor quantidade de eletricidade, em termos absolutos. Nessa altura das pesquisas, a pergunta maior era a seguinte: como estão dispostos e integrados no átomo esses misteriosos elétrons? As respostas a essa e a muitas outras questões viriam a ser dadas por um físico neozelandês, que chegaria a provocar artificialmente a destruição e a transmutação de núcleos do átomo. Com seu trabalho, Ernest Rutherford deu importante contribuição para que a física atômica pudesse seguir o curso de evolução que a trouxe ao estágio de hoje.
 
Os primeiros tempos da vida de Rutherford enquadram-se no lugar-comum de tantas outras biografias de grandes personagens. O pai, um escocês que emigrara para a Nova Zelândia, vivia de consertos de carruagens, na cidade de Nelson, quando Ernest nasceu, a 30 de agosto de 1871. O futuro cientista era apenas o quarto filho do casal: outros nove viriam para onerar ainda mais o minguado orçamento da família.

Mas a Nova Zelândia era uma terra de novas oportunidades, nessa época. Num esforço empreendedor, o velho Rutherford conseguiu iniciar uma fiação de linho e com ela prosperou. Não que enriquecesse. Mas pôde dispor de recursos para custear a educação de alguns filhos, especialmente Ernest, que se destacava pela inteligência e versátil curiosidade: tanto obtinha boas notas em matemática, física e química, quanto em disciplinas literárias, especialmente latim, francês e inglês. Durante toda a vida nutriu verdadeira paixão pela leitura.
 
Aos dezessete anos, entrou na Universidade da Nova Zelândia, no anexo conhecido como Christ Church College. As despesas com livros e subsistência eram garantidas por modesta bolsa de estudo, além da renda de aulas particulares que dava a companheiros mais atrasados.
 
Quase todas as suas preocupações eram voltadas para o estudo, com uma importante exceção: Mary Newton, filha da viúva que mantinha a pensão onde Ernest morava. Fora esse namoro, dividia seu tempo entre bibliotecas e laboratórios. Interessado nas pesquisas de Hertz sobre ondas eletromagnéticas, montou algumas geringonças num canto da cantina universitária e tanto mexeu com os aparelhos rudimentares, que acabou colhendo material para alguns artigos, publicados por periódicos científicos da época.

Mas a Nova Zelândia, decididamente, não tinha muito a oferecer ao jovem cientista. A pesquisa científica moderna, de crescente complexidade, exigia equipamento caro, livros de circulação limitada, ambiente de colegas especializados. As grandes descobertas e as grandes invenções tendiam cada vez mais a surgir junto às grandes concentrações econômicas, em torno das quais desenvolveram-se os mais importantes centros científicos.

Para sua sorte, Rutherford teve oportunidade de acesso a um desses centros. O Príncipe Albert, marido da Rainha Vitória, tinha a preocupação de projetar-se como elemento atuante, para desfazer a tradicional imagem do príncipe consorte, tido corno personagem meramente figurativo. Dentro desse programa, ofereceu uma cátedra a jovens cientistas no Trinity College, da Inglaterra. Rutherford, recentemente diplomado mas já possuidor de certa reputação, candidatou-se ao lugar e foi escolhido. Para a longa viagem de Ernest, o pai teve que contrair dívidas e financiar parte do empreendimento.

Em 1893, com 22 anos, Rutherford já se aprofundava em matemática e física, sob a orientação de J. J. Thomson, descobridor do elétron.

Rutherford em seu laboratório

Na época, uma equipe de cientistas do Laboratório Cavendish pesquisava o novo e fascinante mundo das radiações. Os raios X haviam sido descobertos recentemente por Roentgen e, em 1896, Becquerel havia relatado suas descobertas relativas a misteriosas radiações que emanavam de certos elementos.
Ao estudar as radiações do urânio, Rutherford descobriu que elas eram de pelo menos duas naturezas diferentes, pois o feixe se bipartia ao passar por um campo magnético e cada parte seguia então sentido oposto ao da outra. Propôs que elas fossem designadas como radiação alfa e radiação beta, denominações que se mantêm ainda hoje.

O fato de serem sensíveis à ação magnética sugeria que essas radiações fossem constituídas por feixes de partículas carregadas eletricamente, uma pista fundamental para estudos posteriores. A descoberta ampliou o prestígio científico de Rutherford e resultou na conquista da cátedra de Física na Universidade McGill, do Canadá. Com a situação financeira melhorada e consolidada, Ernest pôde desposar, em 1900, a noiva neozelandesa que o esperava desde os tempos de estudante universitário.

Entretanto, novas radiações iam sendo descobertas. Por exemplo, as do tório, que eram particularmente desconcertantes: ao contrário do que se verificava nos casos do óxido de urânio e da pechblenda, as radiações do tório não pareciam afetadas pela ação de campos magnéticos. Eram radiações eletromagnéticas, como a luz e os raios X. Esse tipo de radiação recebeu o nome de raios gama, por sua descoberta ter sucedido à dos raios alfa e beta.

A respeito dos raios gama, Rutherford formulou a hipótese de que a radiatividade, afinal, não se tratava de um fenômeno comum a todos os átomos, mas somente aos de certa categoria, que se desgastavam continuamente, ao perderem energia com as partículas emitidas. Essa transformação de teor energético de tais átomos, naturalmente, implicava a idéia de que os elementos radiativos, com o passar do tempo, transmutavam-se em outros elementos, de massa atômica mais baixa. Para verificação dessa revolucionária concepção da radiatividade, Rutherford empreendeu numerosas experiências, em colaboração com Soddy. De tais estudos resultou o livro Radiatividade, tratado fundamental dos problemas referentes ao assunto, verdadeiro marco na história do progresso científico.

Coberto de prestígio, Rutherford recebeu convites que lhe permitiram deixar o Canadá e voltar à Inglaterra, onde assumiu a direção do laboratório universitário de Manchester, então um dos mais bem aparelhados do mundo. Aí, a partir de 1907, pôde colaborar com outros físicos de renome, entre eles H. Geiger, inventor do famoso detetor de partículas ionizantes, que leva seu nome.

O fim do século XIX e início do século XX constituíram um tempo de seguidas revoluções científicas. No apogeu do colonialismo, a Europa atravessava uma fase de prosperidade econômica, que permitia a aplicação de recursos econômicos para sustento de cientistas e financiamento de pesquisas.

Pierre e Maríe Curie haviam isolado o rádio e descoberto o polônio, dois produtos da desintegração natural de átomos de elementos de maior massa. Para Rutherford, isso equivalia à descoberta de dois degraus de uma longa escada: à medida que ia emitindo radiação, o urânio deveria converter-se progressivamente em outros elementos; um era o rádio, o outro o polônio. E os demais? Onde terminaria, se é que de fato terminava, a escala de desintegrações sucessivas?

Rutherford e seus colaboradores iniciaram estudos a respeito e, em poucos meses, conseguiram descrever todas as famílias radiativas. No degrau mais alto, o urânio; no mais baixo de todos, o chumbo, em que já não mais existia radiatividade. Entre esses dois extremos, todos os elementos radiativos intermediários, resultantes da "degradação" radiativa, isto é, da desintegração. Foi um importante trabalho, que resultou no reconhecimento universal do mundo científico e na maior recompensa que se pode dar a um pesquisador, o prêmio Nobel de Física, conferido a Rutherford em 1908.

Mas, ao contrário do que ocorreu a tantos outros cientistas, o Prêmio Nobel não marcou o coroamento da carreira de Rutherford. Suas maiores contribuições ainda estavam por vir. 

Experiência de Rutherford

Em 1908, Rutherford realizou uma famosa experiência, na qual bombardeou com partículas alfa uma folha de ouro delgadíssima. Verificou que a grande maioria das partículas atravessava a folha sem se desviar. Concluiu, com base nessas observações e em cálculos, que os átomos de ouro - e, por extensão, quaisquer átomos - eram estruturas praticamente vazias, e não esferas maciças. Numa minúscula região de seu interior estaria concentrada toda a carga positiva, responsável pelo desvio de um pequeno número de partículas alfa. Distante dessa região, chamada núcleo, circulariam os elétrons. Isso convenceu Rutherford de que o átomo deveria ser um sistema semelhante ao solar: um núcleo central grande, rodeado de partículas móveis. Esse é o famoso modelo atômico de Rutherford.

Modelo atômico de Rutherford

Baseado na concepção de Rutherford, o físico dinamarquês Niels Bohr idealizaria mais tarde um novo modelo atômico. Com o advento da Primeira Guerra Mundial, Rutherford interrompeu seus trabalhos. Enquanto muitos de seus alunos e colaboradores foram convocados, ele próprio teve que se ocupar com pesquisas de objetivo militar, a serviço do Almirantado Britânico, setor de guerra anti-submarina. Só depois da guerra foi que o cientista retomou seus estudos a respeito do núcleo do átomo. Mais experiente nas manipulações com partículas alfa, acabou por realizar um velho sonho dos alquimistas, o da conversão de um elemento natural em outro. Ao converter nitrogênio em oxigênio, por bombardeamento eletrônico, Rutherford conseguia realizar a primeira transmutação provocada artificialmente.

Rutherford viveu numa época em que a tecnologia ainda não havia assumido a importância que tem hoje. Pensava-se em ciência ainda com certo romantismo. Os cientistas ainda não sofriam o peso das solicitações de ordem prática, tal como atualmente acontece.

Como Einstein e outros contemporâneos, Rutherford viveu bastante despreocupado em relação a problemas individuais, num estilo de dignidade afável, sempre mantendo um moderado senso de humor. Quando morreu, a 19 de outubro de 1937, muitos foram os que lembraram, nos necrológios, o que dele haviam dito anos antes: "Sempre carregou a glória com indiferença".

::: Sir Isaac Newton :::






Sir Isaac Newton
 (1642 - 1727)


O homem de cabelos brancos fechou o caderno, onde, com com escrita regular e miúda, se alinhavam seus cálculos, e recostou-se na cadeira. Naqueles cálculos, naquele caderno fechado que lhe custara tantos esforços e deduções, mais um mistério fora revelado aos homens. E talvez tenha sentido grande orgulho ao pensar nisso.


Esse ancião grisalho, Isaac Newton, era reverenciado na Inglaterra do século XVIII como o maior dos cientistas. 


Para seus contemporâneos, representava o gênio que codificara as leis do movimento da matéria e explicara como e por que se movem os astros ou as pedras. Uma lenda viva, recoberto de honras e glória, traduzido e reverenciado em toda a Europa, apontado como exemplo da grandeza "moderna" contraposta à grandeza "antiga" que Aristóteles representava. Ainda hoje, seus Princípios constituem um monumento da história do pensamento, só comparável às obras de Galileu e Einstein.


Mas o trabalho que Newton, velho e famoso, acabara de concluir - um dos tantos aos quais dedicou boa parte de sua vida e ao qual atribuía tanta importância - nada tinha a ver com ciência. Era um Tratado sobre a Topografia do Inferno. Lá estavam deduzidos tamanho, volume e comprimento dos círculos infernais, sua profundidade e outras medidas. Essa prodigiosa mente científica envolvia-se também num misticismo sombrio e extravagante, que atribuía ao inferno uma realidade física igual à deste mundo.


Newton, entretanto, era acima de tudo um tímido e poucos souberam dessa obra, que só nos anos vinte deste século começou a ser divulgada.



Casa onde Newton nasceu


Isaac Newton nasceu em Woolsthorpe, no Lincolnshire, Inglaterra, no Natal do ano em que morria Galileu: 1642. Seu pai, um pequeno proprietário rural, havia morrido um pouco antes; três anos mais tarde, a mãe casou-se outra vez, e, mudando de cidade, deixou o pequeno Isaac aos cuidados da avó. Até os doze anos de idade, o menino freqüentou a escola de Grantham, aldeia próxima a Woolsthorpe.


Em 1660, foi admitido na Universidade de Cambridge, conseguindo o grau de bacharel em 1665; nesse ano, uma epidemia de peste negra abateu-se sobre toda a Inglaterra, e a Universidade viu-se obrigada a fechar suas portas. Newton voltou então para casa, onde se dedicou exclusivamente ao estudo, fazendo-o, segundo suas próprias palavras, "com urna intensidade que nunca mais ocorreu". A essa época remontam suas primeiras intuições sobre os assuntos que o tornariam célebre: a teoria corpuscular da luz, a teoria da gravitação universal e as três leis da Mecânica.



Trinity College, em Cambridge


Newton retornou a Cambridge em 1667, doutorando-se em 1668. No ano seguinte, um de seus professores, o matemático Isaac Barrow, renunciou às suas funções acadêmicas, para dedicar-se exclusivamente ao estudo da teologia; nomeou Newton seu sucessor, que, assim, com apenas 26 anos de idade, já era catedrático, cargo que ocuparia durante um quarto de século.


Em 1666, enquanto a peste assolava o país, Newton comprou, na feira de Woolsthorpe, um prisma de vidro. Um mero peso de papel, que iria ter grande importância na história da Física. Observando, em seu quarto, como um raio de sol vindo da janela se decompunha ao atravessar o prisma, Newton teve sua atenção atraída pelas cores do espectro. Colocando um papel no caminho da luz que emergia do prisma apareciam as sete cores do espectro, em raias sucessivas: vermelho, alaranjado, amarelo, verde, azul, anil e violeta. A sucessão de faixas coloridas recebeu do próprio Newton o nome de espectro, em alusão ao fato de que as cores que se produzem estão presentes, mas escondidas, na luz branca.



Prisma de Newton sobre alguns de seus escritos


Newton foi além, repetindo a experiência com todas as raias correspondentes às sete cores. Mas a decomposição não se repetia: as cores permaneciam simples. Inversamente, ele concluiu que a luz branca é, na realidade, composta de todas as cores do espectro. E provou isso reunindo as raias coloridas de duas maneiras diferentes: primeiro, mediante uma lente, obtendo, em seu foco, a luz branca; e, depois, através de um dispositivo mais simples, que passou a ser conhecido como disco de Newton. Trata-se de um disco dividido em sete setores, cada um dos quais pintado com uma das cores do espectro. Fazendo-o girar rapidamente, as cores se superpõem sobre a retina do olho do observador, e este recebe a sensação do branco.


Nos anos que se seguiram, já de novo em Cambridge, Newton estudou exaustivamente a luz e seu comportamento nas mais variadas situações. Desenvolveu, assim, o que passaria a se chamar teoria corpuscular da luz; a luz se explicaria como a emissão, por parte do corpo luminoso, de um número incontável de pequenas partículas, que chegariam ao olho do observador e produziriam a sensação de luminosidade. Como subproduto dessas idéias, Newton inventaria o telescópio refletor: ao invés de usar como objetiva umas lente - que decompondo a luz causa aberrações cromáticas emprega um espelho côncavo, que apenas reflete a luz.



Telescópio construído por Newton


Até 1704 - ano em que apareceu sua Óptica - Newton não publicou nada sobre a luz; mas isso na impediu que suas idéias fossem sendo divulgadas entre os colegas e alunos de Cambridge.


Havia, na época, outra hipótese sobre a natureza da luz: a teoria ondulatória do holandês Christiaan Huygens. Contemporâneo de Newton, Huygens supunha a. luz formada de ondas, que são emitidas pelo corpo luminoso. Pensava que sua propagação se dá da mesma forma que para as ondas sonoras, apenas muito mais rapidamente que estás últimas.


A posteridade viria demonstrar que, apesar de nenhuma das duas teorias ser integralmente acertada, Huygens andava mais perto da verdade que Newton. Contudo, quando, em 1672, Newton foi eleito membro da Royal Society, seu prestígio já o havia antecedido, e ele quase não encontrou oposição à sua teoria da luz. Mas os poucos opositores - sobretudo Robert Hooke, um dos maiores experimentalistas ingleses obrigaram Newton a enfrentar uma batalha em duas frentes: contra eles e contra a própria timidez.


Seu desgosto pela controvérsia revelou-se tão profundo que, em 1675, escreveu a Leibnitz: "Fui tão importunado com discussões a respeito de minha teoria sobre a luz, que condenei minha imprudência em me desfazer de minha abençoada tranqüilidade para correr atrás de uma sombra". Essa faceta de sua personalidade iria fazê-lo hesitar, anos mais tarde, em publicar sua obra máxima: os Princípios. 


Por mais de um milênio - desde que, juntamente com o Império Romano, a ciência antiga fora destruída - o pensamento europeu demonstrou-se muito pouco científico. A rigor, é difícil afirmar que a Idade Média tenha, de fato, conhecido o pensamento científico. O europeu culto, geralmente um eclesiástico, não acreditava na experimentação, mas na tradição. Para ele, 'tudo quanto havia de importante a respeito de ciência já havia sido postulado por Aristóteles e mais alguns cientistas gregos, romanos ou alexandrinos, como Galeno, Ptolomeu e Plínio. Sua função não era colocar em dúvida o que tinham afirmado, mas transmiti-lo às novas gerações.


Em poucos séculos - do XI ao XV - o desenvolvimento do comércio e, posteriormente, do artesanato, da agricultura e das navegações, fez desabar a vida provinciana da Idade Média, prenunciando o surgir da Idade Moderna, na qual a ciência foi adquirindo importância cada vez maior.


Os dois grandes nomes que surgem como reformadores da ciência medieval são Johannes Kepler e Galileu Galilei. Kepler, embora um homem profundamente medieval - tanto astrólogo quanto astrônomo - demonstrou, entretanto, que o sistema astronômico dos gregos e dos seus seguidores estava completamente errado. Galileu fez o mesmo com a física de Aristóteles.


A mecânica de Aristóteles, assim como quase toda sua obra científica, baseava-se principalmente na intuição e no "bom senso". Dessa forma, suas análises não iam além dos aspectos mais superficiais dos fatos. A experiência cotidiana sugeria-lhe, por exemplo, que, para conservar um corpo em movimento, é necessário mantê-lo sob a ação de uma influência, empurrá-lo ou puxá-lo. E ele o diz explicitamente em sua Mecânica: "O corpo em movimento chega à imobilidade quando a força que o impele não mais pode agir de modo a deslocá-lo". No entanto, é fato indiscutível que uma pedra pode ser arremessada à distância, sem que seja necessário manter a ação de uma força sobre ela. Aristóteles contornava essa dificuldade dizendo que a razão pela qual a pedra se movimenta repousa no fato de que ela é empurrada pelo ar que ela afasta, à medida que avança. Por menos plausível que fosse essa explicação, ela permaneceu incontestada até o aparecimento de Galileu.


O sábio florentino, percebendo as incongruências das teorias aristotélicas, atacou o problema de maneira oposta. Seu raciocínio foi bastante simples: suponha-se que alguém empurre um carrinho de mão por uma estrada plana. Se ele repentinamente parar de empurrar, o carrinho percorrerá ainda uma certa distância antes de cessar seu movimento. E essa distância poderá ser aumentada, se a estrada for tornada muito lisa e as rodas do carrinho estiverem bem lubrificadas. Em outros termos, à medida que se diminuir o atrito entre o eixo do carrinho e suas rodas, e entre estas e a estrada, a redução de sua velocidade será cada vez menor. Galileu supôs, então, que, se o atrito entre o carrinho e a estrada fosse eliminado por completo, o carrinho deveria - uma vez dado o impulso inicial - continuar indefinidamente em seu movimento.

Quarenta anos após a morte de Galileu, Isaac Newton formulou mais precisamente esse conceito, que passou a ser conhecido como o Primeiro Principio da Mecânica: "Qualquer corpo permanece em repouso ou em movimento retilíneo uniforme, a não ser que sofra uma ação externa".

Galileu havia tentado ir mais além, estudando a maneira como o movimento de um corpo varia quando este está sob a ação de uma força - por exemplo, a queda de um corpo sobre a superfície da Terra. Contudo, ele não pôde separar claramente nas suas experiências o dado principal dos acessórios. Foi Newton quem despiu o problema de seus aspectos não essenciais, e viu na massa do corpo esse dado.

Um mesmo corpo, submetido a forças de valores diferentes, move-se com velocidades diversas. Uma bola parada, ao receber um chute, adquire maior ou menor velocidade, num certo lapso de tempo, conforme o chute seja forte ou fraco. Como a variação da velocidade com o tempo mede a aceleração, a força maior comunica à bola uma aceleração maior.

Por outro lado, dois corpos de massas diferentes, quando sob a ação de forças de igual valor, também se movem diversamente: o de maior massa fica submetido a uma aceleração menor. Ou seja, a aceleração provocara por uma força que atua sobre um corpo tem a direção e o sentido desta força, e é diretamente proporcional ao valor dessa força e inversamente proporcional à massa do corpo.

Esse é o enunciado do Segundo Princípio da Mecânica, que permite, em última análise, descrever todo e qualquer movimento, desde que se conheçam as massas dos corpos envolvidos e as forças a que eles estão sujeitos. A partir dele, podem-se derivar todas as relações entre a velocidade de um corpo, sua energia, o espaço que ele percorre em determinado intervalo de tempo, e assim por diante.

Entretanto, além do problema da massa, Newton foi obrigado a resolver outra questão: como se manifesta o estado de movimento de um corpo, num tempo infinitamente curto, sob a influência de uma força externa? 


Somente assim poderia estabelecer fórmulas gerais aplicáveis a qualquer movimento. Esta preocupação levou-o a inventar o cálculo diferencial, a partir do qual obteve também o cálculo integral.


O contraste entre a simplicidade do enunciado e a profundidade de sua significação é ainda mais evidente no seu Terceiro Principio da Mecânica:
"A toda ação corresponde uma reação igual e em sentido contrário " Este é o postulado mais simples e mais geral de toda a Física. Ele explica, por exemplo, por que uma pessoa dentro de um barco, no meio de um rio, quando quer se aproximar da terra firme, "puxa a margem" e o resultado visível é que a margem "puxa o barco". Em outras palavras, quando o indivíduo laça com uma corda uma estaca da margem e começa a puxar a corda, está, na verdade, exercendo uma força (ação) sobre a margem; esta, por sua vez, aplica uma força igual em sentido contrário (reação) sobre o barco, o que faz com que este se movimente.
Pode parecer extraordinário que algo tão evidente tivesse que esperar o surgimento de Newton para ser estabelecido; mas, na verdade, ele só pôde fazer suas afirmações depois que Galileu tornou claro o papel que as forças desempenham no movimento. Galileu foi, assim, o precursor de Newton, e este seu herdeiro e continuador.


O papel de Newton como sintetizador repetiu-se em outro dos episódios importantes de sua obra: o descobrimento da lei da gravitação universal. Desta vez, o pioneiro foi Kepler.


Enquanto Galileu lutou contra Aristóteles, Kepler insurgiu-se contra Ptolomeu, um dos maiores astrônomos alexandrinos e, também - embora involuntariamente -, o principal obstáculo ao desenvolvimento da astronomia na Idade Média.


Ptolomeu acreditava no sistema das esferas concêntricas: a Terra era o centro do Universo; à sua volta, giravam a Lua, o Sol, os planetas e as estrelas. E, o que é mais importante do ponto de vista cosmológico, tinha a certeza de que os movimentos dessas esferas deveriam realizar-se em círculos perfeitos, com velocidade uniforme. Sua certeza originara-se em Platão e tinha razões de ordem religiosa: Deus só pode fazer coisas perfeitas, e apenas o movimento circular é perfeito.


Essa visão do Universo prevaleceu por tempo espantosamente longo, considerando-se as evidências em contrário. O primeiro passo efetivo contra esse estado de coisas foi dado por Nicolau Copérnico, no princípio do século XVI: ele questionou o dogma de que a Terra é o centro do Universo, transferindo para o Sol este papel. Mas não viveu - nem lutou - para ver sua idéia prevalecer. Quem fez isso foi Kepler.


Colocar o Sol no centro do Universo, com a Terra e os demais planetas girando em torno dele, não foi a tarefa mais árdua de Kepler; o pior foi descrever como se dá o movimento dos planetas, já que as trajetórias circulares evidentemente não eram obedecidas. E Kepler lutou a vida inteira contra seus contemporâneos - e contra seus próprios preconceitos astrológico-mágicos para concluir que os planetas descrevem elipses em torno do Sol, obedecendo a três leis matemáticas bem determinadas.


Trinta anos após a morte de Kepler e vinte depois da de Galileu, Newton, com apenas vinte anos de idade, atacou o quebra-cabeças legado por seus dois precursores. As peças-chave eram: as leis dos movimentos dos corpos celestes, de Kepler. e as leis dos movimentos dos corpos na Terra, de Galileu. Mas os dois fragmentos não se ajustavam, pois, de acordo com as leis descobertas por Kepler, os planetas se moviam segundo elipses, e, conforme Galileu, segundo círculos. Por outro lado, as leis da queda dos corpos de Galileu não possuíam relação aparente com o movimento dos planetas ou dos cometas.


Newton atacou o problema, estabelecendo uma analogia entre o movimento da Lua ao redor da Terra e o movimento de um projétil lançado horizontalmente na superfície do planeta. Qualquer projétil assim lançado está sob a ação de dois movimentos: um movimento uniforme para a frente em linha reta, e um movimento acelerado devido a força de gravidade que o atrai para a Terra. Os dois movimentos interagindo produzem uma curva parabólica, conforme demonstrou Galileu, e o projétil termina por cair ao chão. Cairá mais perto do lugar onde foi disparado se a altura de lançamento foi pequena e a velocidade inicial do corpo foi baixa; cairá mais longe, se a situação se inverter.


Newton perguntou-se, então, o que sucederia se a altura do lançamento fosse muito grande, comparável, por exemplo, com a distância da Terra à Lua. E sua resposta foi a de que o corpo deveria cair em direção à Terra, sem, contudo, atingir sua superfície.


O porquê reside no seguinte: se o corpo for lançado além de uma certa altura - e esse é o caso, por exemplo, dos satélites artificiais -, a parábola descrita pelo corpo não o trará de volta à Terra, mas o colocará em órbita. Assim, o satélite artificial está sempre caindo sobre o planeta, sem nunca atingi-lo. O mesmo acontece com a Lua, que um dia tangenciou a Terra e nunca mais deixou de "cair" sobre 'ela.


Com esse raciocínio, Newton ligou dois fenômenos que até então pareciam não ter relação entre si- o movimento dos corpos celestes e a queda de um corpo na superfície da Terra. Foi assim que surgiu a lei da gravitação universal.


Tudo isso foi-lhe aparecendo gradualmente, até que, em 1679, pôde responder a Halley, seu amigo e discípulo, que lhe perguntara se conhecia um princípio físico capaz de explicar as leis de Kepler sobre os movimentos dos planetas. E sua resposta foi a seguinte: a força de atração entre dois corpos é proporcional ao produto de suas massas e inversamente proporcional ao quadrado da distância que os separa. "Percebi", escreveu Halley a Newton, "que você tinha feito uma demonstração perfeita."


Halley induziu, então, o amigo não sem alguma dificuldade, pois Newton tinha bem presente o episódio da polêmica com Hooke - a reunir em uma só obra seus trabalhos sobre a gravitação e as leis da Mecânica, comprometendo-se a custeear, ele mesmo, as despesas de publicação. 




Embora se tratasse de resumir e ordenar trabalhos em grande parte já escritos, sua realização consumiu dois anos de aplicação contínua. O compêndio, chamado Philosophiae Naturalis Principia Mathematica, os Princípios, compõe-se de três livros. O primeiro trata dos princípios da Mecânica; é nele que aparecem as três leis do movimento de Newton. O segundo cuida da mecânica dos fluidos e dos corpos neles imersos. Finalmente, o terceiro situa filosoficamente a obra do autor e traz alguns resultados do que foi estabelecido nos dois anteriores.


Nesse terceiro livro, Newton analisa os movimentos dos satélites em tomo de um planeta e dos planetas ao redor do Sol, baseando-se na gravitação universal. Mostra que é possível deduzir, da forma de tais movimentos, relações entre as massas dos planetas e a massa da Terra. Fixa a densidade da Terra entre 5 e 6 (o valor admitido atualmente é 5,5) e calcula a massa do Sol, bem como a dos planetas dotados de satélites. Avalia em 1/230 o achatamento da Terra nos pólos - hoje sabemos que este valor é de 1/270.


A estrada: de Newton em direção à execução da obra que o imortalizou foi plana e isenta de acidentes de maior importância. Newton não teve que enfrentar sozinho, como Galileu, a oposição de seus contemporâneos, nem conheceu, como o florentino, a iniqüidade das retratações perante os tribunais religiosos. Não precisou, como Kepler, travar lutas consigo próprio, para fazer coincidir suas idéias sobre astrologia e seus preconceitos místicos com os resultados das observações.
Newton, como se descobriria depois, foi tão obcecado pelo misticismo quanto Kepler. Só que ele manteve ciência e religião completamente separados em sua mente. Uma não influía sobre a outra.



Casa de Newton em Londres, em Leicester Square


Newton sempre teve o apoio do mundo científico de sua época, usufruindo de todas as honrarias que podem ser concedidas a um homem de ciência: em 1668, foi nomeado representante da Universidade de Cambridge, no Parlamento; em 1696, assumiu o cargo de inspetor da Casa Real da Moeda, tornando-se seu diretor em 1699; nesse mesmo ano foi eleito membro da Academia Francesa de Ciências; em 1701, deixou sua cátedra em Cambridge, e, a partir de 1703, até sua morte, foi presidente da Royal Society.


Mas, ao assumir mais cargos e receber mais gratificações, sua atividade científica passou a diminuir e sua preocupação com religião e ocultismo tendeu a aumentar. Depois da publicação dos Princípios, suas contribuições se tornaram cada vez mais esparsas e, na maior parte das vezes, insignificantes quando comparadas com a obra anterior.


No início de 1727, Newton, cuja saúde declinava há anos, ficou gravemente enfermo. Morreu no dia 20 de março desse ano, tendo sido sepultado na Abadia de Westminster com o seguinte epitáfio: "É uma honra para o gênero humano que um tal homem tenha existido."

::: Lord Kelvin :::



Lord Kelvin
 (1824 - 1907)

   No século XIX, a ciência foi definitivamente consagrada como fator de aprimoramento da vida humana. Gradativamente, o trabalho científico assumiu seu papel social, integrando-se melhor às outras atividades do homem. O apelo utilitário da indústria, por exemplo, abria à ciência possibilidades revolucionárias, acelerando o desenvolvimento da técnica.

Figura ativa nesse cenário, William Thomson - mais tarde Lorde Kelvin foi um dos cientistas que, vivendo intensamente sua época, superou os limites de um campo de trabalho até então muito estrito e estendeu seu talento à invenção e à tecnologia.

No ano de 1899, a universidade escocesa de Glasgow perdia o mais célebre de seus docentes, ao mesmo tempo que conquistava um novo estudante. Lorde Kelvin, deixando a cátedra que ocupara por 53 anos, pedia para ser admitido como pesquisador.


Universidade de Glasgow

William Thomson nascera 75 anos antes (26 de julho de 1824) em Belfast, Irlanda, de uma família de agricultores escoceses. Havia completado oito anos quando seu pai começou a lecionar matemática na Universidade de Glasgow. Dois anos depois, certamente em consideração a seus dotes excepcionais, o rapaz foi admitido na universidade. Sua mente, porém, não se limitava aos estudos curriculares. Em pouco tempo, conquistou um vasto conhecimento sobre os clássicos antigos e orientais, que conseguia ler na língua original.
Deixando Giasgow sem se graduar, em 1841, entrou para o Peterhouse College, em Cambridge. Contava então com dezessete anos. Lá se fez notar pela seriedade no estudo, pela amabilidade de caráter e por uma grande paixão esportiva (era um ótimo remador). Em 1845 diplomou-se e mereceu o Smith's Prize. No mesmo ano viajou para a França.

Na época, havia poucas facilidades na Grã-Bretanha para o estudo das ciências experimentais, ao contrário do que se observava em outros países ocidentais. Apesar da fecundidade da tradição newtoniana - baseada na experimentação, e que estava na origem dos êxitos dos físicos britânicos -, o ensino científico no país sofria um declínio, graças à influência aristocrática e religiosa sobre as universidades e as concepções imediatistas da indústria.

A vitória da Inglaterra sobre Napoleão, ao mesmo tempo que consagra a supremacia industrial britânica, assinala a decadência da filosofia racionalista difundida pela Revolução Francesa e provoca um sentimento hostil ao desenvolvimento acelerado da ciência, possível fonte de ateísmo.

Afastando-se desse ambiente pouco propício, Kelvin foi a Paris, onde estudou sob a orientação de Regnault, então empenhado em suas clássicas pesquisas sobre as propriedades térmicas do vapor. O tratado de Joseph Fourier sobre o calor havia despertado em Kelvin, cinco anos antes, intenso interesse pela termodinâmica.
Em 1846, Kelvin aceitou a cadeira de filosofia natural na Universidade de Glasgow. Um ano depois, conheceu Joule, encontro que influenciou decisivamente a evolução de sua carreira. 

 
As propriedades do calor foram um dos temas preferidos de Kelvin. Analisou com mais profundidade as descobertas de Jacques Charles sobre a variação de volume dos gases em função da variação de temperatura. Charles concluíra, com base em experimentos e cálculos, que à temperatura de -273'C todos os gases teriam volume igual a zero. Kelvin propôs outra conclusão: não era o volume da matéria que se anularia nessa temperatura, mas sim a energia cinética de suas moléculas. Sugeriu então que essa temperatura deveria ser considerada a mais baixa possível e chamou-a de zero absoluto. A partir dela, propôs uma nova escala termométrica (que posteriormente recebeu o nome de escala Kelvin), a qual permitiria maior simplicidade para a expressão matemática das relações entre grandezas termodinâmicas.

 
Em 1851 apresentou um trabalho sobre a teoria dinâmica do calor. Esta reconciliava os estudos de Sadi Carnot com as conclusões de Rumford, Davy, Mayer e Joule. Neste trabalho foi, pela primeira vez, estabelecido o princípio da dissipação da energia, posteriormente sumarizado no segundo princípio da termodinâmica.
Kelvin, porém, não se limitava a formular teorias sobre os princípios gerais da física, mas as experimentava tenazmente, usando engenhosos aparelhos por ele mesmo inventados.

Na época de sua juventude, o estudo da eletricidade e, em particular, a teoria matemática da eletrostática estavam apenas esboçados e ainda imprecisos. A contribuição de Kelvin nestas áreas foi notável. Encontrou meios de medir tensões e correntes nas condições as mais diversas. Construiu delicados instrumentos capazes de verificar as leis da eletrostática. Em 1853, formulou a teoria dos circuitos oscilantes e conseguiu comprová-la com seu aparelhamento de concepção verdadeiramente moderna. Por fim, sugeriu um processo para a medição da força eletromotriz e da resistência ôhmica (1861) e construiu um eletrômetro, com o qual era possível determinar, com exatidão, a constante que relaciona a unidade eletromagnética e a unidade eletrostática de intensidade de corrente (1867).

Kelvin e o cabo submarino

Com sua habilidade em construir instrumentos, era lógico que o cientista viesse a interessar-se pelo telégrafo com fio, assunto que naquele momento fascinava o mundo, mas que apresentava grandes dificuldades técnicas. O problema a ser resolvido era o da ligação, entre a Europa e a América, por meio de cabo submarino. Em fins de 1854, Kelvin começou a apaixonar-se pelo problema, que o interessava não só por ser físico e engenheiro, mas também porque o mar o atraía.

Inicialmente, concluiu que o cabo comporta-se como um condensador e calculou sua capacidade. Depois, serviu-se das fórmulas de Fourier para deduzir as leis da propagação dos impulsos. Finalmente, através de uma série de experiências, demonstrou a influência negativa das impurezas do cobre e melhorou as transmissões. Atingiu este último objetivo colocando um condensador em cada extremidade do cabo.

Unindo a genialidade do inventor ao senso prático do empresário, em 1856 tornou-se diretor da Atlantic Telegraph Co. e lutou para ver suas idéias realizadas. As primeiras tentativas não foram felizes. Um cabo foi perdido em 1857, em decorrência de uma manobra errada. Outro, colocado no ano seguinte entre a Irlanda e a Terra Nova, talvez por sabotagem, inicialmente não funcionou. Depois, quando o galvanômetro de espelho de Kelvin permitiu remover o último obstáculo, o cabo, já estragado, teve que ser definitivamente abandonado.

Galvanômetro de espelho de Kelvin

As tentativas só viriam a ser retomadas em 1865. O galvanômetro de espelho, tão útil nas mais delicadas experiências físicas, foi inventado por Kelvin exatamente para revelar os fraquíssimos sinais recebidos através dos cabos telegráficos (atualmente os sinais são amplificados por meio de dispositivos eletrônicos). Além deste, Kelvin preparou (1867) um galvanômetro que, ao perceber os sinais, gravava-os em uma fita de papel (este instrumento foi chamado Syphon recorder).

Neste ínterim, com o auxílio do barco a vapor Great Eastern, foi instalado um novo cabo de 1 200 milhas de extensão, que funcionou perfeitamente. Em 27 de julho de 1866, os dois continentes estavam ligados por telégrafo.

Juntamente com seus colaboradores, Kelvin foi feito baronete e, em 1869, começou a auferir os primeiros lucros de sua empresa, os quais aplicou em patrocinar uma bolsa de estudos na Universidade de Glasgow.

Durante suas numerosas viagens marítimas, percebeu o quanto eram imprecisas as bússolas, sobretudo em conseqüência da ação magnética exercida pela própria embarcação. Dedicou-se então, a partir de 1873, ao aperfeiçoamento desse instrumento e à invenção de outros. Entre eles destacam-se um aparelho capaz de calcular a amplitude das marés e uma máquina para resolver sistemas lineares algébricos.

A geologia e a cosmogonia foram também objeto de seus estudos, assim como a estrutura da matéria e do "éter". Sob a influência de Hermann von Helmholtz, grande físico alemão e seu amigo, Kelvin aceitou a idéia de que os átomos fossem vórtices do "éter". Em seus últimos anos, porém, adotou a hipótese da natureza elétrica da matéria, embora sem muita convicção.

Na época de Kelvin não se conhecia ainda a natureza da energia irradiada pelo Sol. Baseando-se na teoria de que essa energia resultava do resfriamento da matéria primitiva, deduziu as idades mínimas de 500 milhões de anos para a Terra e 100 milhões para o Sol. Estas conclusões, que suscitaram as mais vivas polêmicas, eram consideradas exageradas. O conhecimento moderno revelou que, em verdade, o erro era por falta.

Essa intensa atividade foi acompanhada de honrarias que culminaram, em 1892, com o título de barão Kelvin de Largs, na Inglaterra. No mesmo ano recebeu a Ordem do Mérito. Dois anos antes havia se tornado presidente da Royal Society e dois anos depois foi eleito chancellor da Universidade de Glasgow. 

Em nenhum momento, porém, modificou seus hábitos, sempre caracterizados pela modéstia. Proveniente de uma família muito numerosa, Lorde Kelvin havia desposado, em 1852, Margaret Grums. Brilhante e culta, mas de saúde frágil, Margaret faleceu, ainda jovem, em 1870.

Tornando a viajar sem descanso, Lorde Kelvin encontrou e desposou quatro anos depois, na ilha da Madeira, Francis Blandy. Esta união se estendeu, serena, pelo espaço de trinta anos.

Deixando mais de trezentos trabalhos publicados, o infatigável cientista morreu no dia 17 de dezembro de 1907, em Netherall, na mesma Escócia da qual haviam emigrado os seus antepassados. Seu sepultamento deu-se, com todas as honras, na Abadia de Westminster. Com ele, desaparecia o tipo de físico e engenheiro que havia simbolizado o século XIX e que representava o espírito otimista e empreendedor daquela época.

::: Luigi Galvani :::



Luigi Galvani
1737 - 1798

Século XVIII. Surgem as primeiras intuições dos fenômenos elétricos e magnéticos. Franklin especifica a noção de carga elétrica. Cavendish define a capacidade de um condutor e seu grau de eletrificação, que mais tarde será chamado potencial. Coulomb formula a lei do inverso do quadrado das distâncias para as interações de cargas elétricas, e inicia o estudo experimental e teórico da distribuição da eletricidade na superfície de um condutor. Toda essa série de pesquisas é o início de um dos períodos mais fecundos da história da ciência, período esse que culminará com a invenção da pilha por Alessandro Volta.

E é rejeitando a teoria simplista de Galvani - defensor da "eletricidade animal" - que Volta estabelece a relação entre fenômenos elétricos e químicos.

Nascido em Bolonha, a 9 de setembro de 1737, Luigi Galvani permaneceu nessa cidade durante toda sua vida, afastando-se de lá uma única vez.

Orientado pelo pai, o médico Domenico Galvani, Luigi ingressou na Universidade de Bolonha, onde, com apenas 22 anos de idade, completou o curso de medicina. Três anos mais tarde, em 1762, ele ocupou a cátedra de anatomia nessa universidade.

Hábil cirurgião, Galvani realizou importantes estudos de anatomia comparada sobre os aparelhos urinário e genital, e os órgãos do olfato e da audição. Datam desse período, que se estendeu de 1762 a 1783, algumas publicações sobre o assunto: De Ossibus These (1762), De Renibus atque Uretribus Volatilium (1767) e De Volatilium Aure (1783).
De 1783 em diante, a orientação das pesquisas de Galvani mudou completamente: os fenômenos elétricos começaram então a absorvê-lo.

Em 1797, com a implantação da República Cisalpina, Galvani viu-se obrigado a abandonar a cátedra de anatomia: seus princípios religiosos impediam-no de prestar juramento aos novos governantes. Aos tempos afortunados, seguiu-se um longo período de privações e miséria, que se estendeu até 1798, ano em que ele morreu. Pouco antes, havia sido reconhecido seu direito de receber uma pequena pensão de aposentadoria.

Em 1786, Galvani observou acidentalmente o que mais tarde chamaria de "eletricidade animal". As primeiras anotações sôbre essa descoberta foram publicadas somente em 1791. Em sua memória De Viribus Electricitatis in Motu Musculari, ele descreve sua observação casual nos seguintes termos: "Tendo dissecado e preparado uma rã, coloquei-a sobre uma mesa onde se achava, a alguma distância, uma máquina eletrostática. Aconteceu, por acaso, que um de meus assistentes tocou a ponta de seu escalpelo no nervo interno da coxa da rã; imediatamente os músculos dos membros foram agitados por violentas convulsões". Galvani acreditou ter realizado importante descoberta. Pensava, erroneamente, ter encontrado um detetor extremamente sensível para as correntes ou descargas elétricas, cujo estudo ainda engatinhava; em seguida, admitiu a hipótese de que esse "detetor" poderia revelar-se uma nova fonte de eletricidade. Na época eram conhecidos somente o atrito e a "influência" (indução) eletrostática.

Experiência atmosférica

Desde logo, Galvani começou a variar as condições de suas experiências. Em um dia tempestuoso, foi levado a acreditar que a eletricidade atmosférica era capaz de produzir os mesmos efeitos que sua máquina eletrostática. Em condições atmosféricas normais, porém, Galvani nada observou. Esse fato mostra o caráter simplista e puramente casual das deduções de Galvani, pois nem a máquina eletrostática nem as condições atmosféricas influíam no resultado de suas experiências. Para Galvani, todavia, isso significava certamente um reforço para suas convicções.

Certo dia, tendo fixado um fio de cobre na medula espinhal de uma rã, Galvani fechou o circuito suspendendo o fio em uma rede de ferro; imediatamente as convulsões se manifestaram. Desta vez, a experiência poderia ter levado a conclusões certas: havia um circuito formado por três condutores - um, eletrolítico, e dois metálicos. Mas Galvani, perseguido pela idéia de que a rã poderia ser um detector de eletricidade, atribuiu as convulsões observadas às variações do estado elétrico da atmosfera.

E, mais uma vez, Galvani alterou as condições de sua experiência. Desta vez, ele descreve: "Levei o animal para um quarto fechado e coloquei-o sobre uma placa de ferro; quando toquei a placa com o fio de cobre, fixado na medula da rã, vi as mesmas contrações espasmódicas de antes. Tentei outros metais, com resultado mais ou menos violentos. Com os não condutores, todavia, nada se produziu. Isso era bastante surpreendente e conduziu-me a suspeitar de que a eletricidade era inerente ao próprio animal, suspeita que foi confirmada pela observação de que uma espécie de circuito nervoso sutil (semelhante ao circuito elétrico da garrafa de Leiden) fecha-se dos nervos aos músculos quando as contrações se produzem".

Em outra experiência, Galvani usou um arco metálico, constituído por uma haste de cobre e outra de zinco.


Laboratório de Galvani

Embora possuísse todos os dados necessários para elaborar a teoria eletrolítica, Galvani defendeu durante toda a vida a falsa teoria da eletricidade animal. Sustentou também a comparação de seu "aparelho" (a rã) com a garrafa de Leiden; o nervo era a armadura interna e o músculo a armadura externa.

A descoberta de Galvani entusiasmou os cientistas da época, principalmente Alessandro Volta. Este repetiu, em 1792, as experiências de Galvani, tendo aceito inicialmente a hipótese da eletricidade animal.

Em 1793, todavia, ele rejeitou radicalmente tal teoria, provando que os músculos da rã não se contraem se a placa e o fio forem constituídos de um mesmo metal. Iniciou-se então uma polêmica calorosa entre Galvani e Volta. Galvani chegou a demonstrar que as convulsões podiam ser obtidas mesmo sem a intervenção de qualquer arco metálico. Volta, no entanto, considerou esse fenômeno como uma simples decorrência de um estímulo mecânico e rebateu a hipótese do médico de Bolonha, expondo o princípio dos três condutores - um eletrolítico e dois metálicos. Eram esses os únicos elementos necessários para originar o fluido elétrico (como era chamada na época a corrente elétrica).

De 1795 a 1797, Galvani trocou intensa correspondência com Lazzaro Spallanzani. Em suas cartas, ele manifestava forte desejo de pôr fim à polêmica com Volta, conciliando as duas teorias. Visando a esse objetivo, distinguiu dois tipos de contrações, umas obtidas sem a ajuda do arco metálico, outras que exigiam sua presença. As primeiras, ele atribuía à eletricidade inerente ao próprio organismo animal; as segundas, ao que chamava, embora não soubesse definir, de eletricidade extrínseca. Defendeu ainda que os músculos se contraíam somente quando o "fluido" não corria da maneira regular.

Essa tentativa de conciliação foi totalmente infrutífera, como era natural.

Em uma carta a um de seus amigos, escrita no ano de 1796, Volta expressou claramente suas idéias a respeito de condutores e eletricidade: "O contato de condutores diferentes, sobretudo metálicos, que denominarei condutores secos ou de primeira classe, com condutores úmidos, ou de segunda classe, desperta o fluido elétrico e imprime-lhe certa impulsão ou incitação. . .". No mesmo ano, Fabbroni, um químico de Florença, observou que, quando duas lâminas de metais diferentes são postas em contato no interior de um líquido - água, por exemplo -, uma delas fica oxidada. Intuiu então que deve existir certa relação entre os dois fenômenos - o elétrico e o químico.

Em 1800, Volta reafirmou essa relação, construindo a primeira pilha elétrica, hoje chamada pilha galvânica ou voltaica.

No último período de sua existência, Galvani, já fraco de saúde e profundamente abalado pela morte de sua mulher, empreendeu uma longa viagem ao Adriático. Seu objetivo era estudar o comportamento dos torpedos - uma espécie de peixe-elétrico. Deduziu, de suas observações, que era de natureza elétrica o choque provocado pelo peixe e que ele era particularmente intenso nos músculos do animal. Com essas observações, Galvani acreditou, mais uma vez erradamente, ter achado a confirmação do que durante toda a vida defendera - o fluido elétrico de origem animal...

Galvani morreu pouco depois dessa viagem, no dia 4 de dezembro de 1798.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

.::Telescópios - Dicas Anti-Lixoscópios::.

Finalmente chegou o ultimate guia de como reconhecer com facilidade absolutamente qualquer telescópio ruim à venda!

1: O Nome e a Descrição!

Procure por estas palavras no nome ou na descrição do telescópio:
- SUPER (Em letra maiúscula mesmo)
- Profissional
- 575x / 400x
- Kit de limpeza
- Potente
- Tasco
- Bushnell
- BlueSky
Para resumir, lembrem-se sempre das 3 palavras proibidas, certo crianças?
Não lembram quais são as 3 palavras proibidas? Então vamos lá:

Super
Profissional
Potente

Fujam de telescópios com essas palavras no nome como o diabo foge da cruz.

2: O Preço!

Telescópios ruins custam quase sempre menos de R$ 300,00

3: As Fotos!

Telescópios ruins quase sempre aparecem cheios de fotos ultra coloridas powerpuff power de Nebulosas e Galáxias, cheias de detalhes de drenar a água do corpo todo e jogar na boca, e é claro, eles nem se dão ao trabalho de informar que as fotos não vieram do lixoscópio deles.
Outro problema comum com as fotos é as fotos lunares que acompanham o anúncio, geralmente são fotos da Lua em 300x, muito além da capacidade do telescópio anunciado, e que ainda assim percebe-se que o aumento não corresponde ao anunciado, de fato o aumento usado nessas fotos é quase sempre muito menor.

4: A Marca!

Ou melhor, a falta dela. Telescópios ruins raramente informam a marca dos telescópios, e o vendedor só informa se for perguntado especificamente, e a resposta é quase sempre a mesma: Weifeng ou Greika, duas marcas genéricas que são vendidas em massa por lojas de departamento.

5: Os Acessórios!

A técnica preferida de celebridades para esconder as rugas e as varizes é usar maquiagem, muita maquiagem, e isso não se limita só aos famosos mas também aos telescópios. Geralmente telescópios ruins vem cheios de acessórios para tentar esconder o nível de porcaria que eles realmente são, os acessórios preferidos do vendedor genérico de plantão são:
- Kit de limpeza
- Bolsa para transporte
- CD de Astronomia com diversos programas que você pode baixar de graça em casa

6: As Oculares!

Telescópios ruins tem uma regra: nunca inclua oculares de qualidade junto com o telescópio, e essas são as iniciais com as quais você deve se preocupar:
- H
- SR
Essas iniciais precedem a distância focal da ocular, e significam o tipo da ocular, no caso Hyugens (H) e Super Ramsdem (SR). Se ele vier dizendo que as oculares são algo como: H20, H12 e SR4, FUJA!
Uma forte aliada dessas oculares é uma Barlow 3x de plástico.

7: A Loja!

Telescópios ruins são geralmente vendidos em lojas de departamento, aquelas lojas que tem como lema: Vendemos de Tudo e fazemos de Tudo para Vender. Os vendedores geralmente fazem alarde em altas vozes sobre a potência (lembram das 3 palavras proibidas?) do telescópio, com aumentos espetaculares de 600x e detalhes magníficos.

8: A Caixa!

Sim! Até com a pobre caixa do produto eu vou implicar! Telescópios porcaria geralmente vem em caixas coloridas com uma grande área transparente onde você pode ver o próprio telescópio e alguns acessórios, alguns chamam isso de telescópio de brinquedo.

9: As Fotos do Produto!

Uma coisa que não escapou da minha atenção foram as fotos do próprio telescópio, retratados com um fundo de diversos planetas, nebulosas e galáxias, notavelmente o telescópio está brilhando. Uma vez quando eu era menor eu comprei um telescópio desses nas Lojas Americanas, levei para casa na maior ansiedade e animação, montei ele e apaguei a luz. Nada. Sem fundo de planetas ou telescópio brilhando, me senti roubado e lesado, quase liquei pro PROCON, mas achei que não ia conseguir convencer eles. (Nota para os mais lentinhos: história fictícia)

10: O Aumento!

Telescópios ruins sempre jogam todo o maravilhoso aumento deles direto na sua cara, fazem ele te dar um soco e se forçar por sua goela abaixo, eu estou falando das quinhentas vezes que 600X! 600x! 600x! é anunciado, como se já não bastasse o aumento totalmente desproporcional à capacidade do telescópio (vide artigo Comprando o primeiro telescópio? Cuidado! para maior referência do aumento real).
Disclaimer: Pode ter um ou outro telescópio ruim que não siga o padrão do telescópio ruim, essas dicas valem para a esmagadora maioria dos telescópios porcaria, mas não é generalizado, assim como alguns (a esmagadora minoria) dos telescópios bons podem também ter algumas características mencionadas aqui.